quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

New Art



















Um pouco de Arte recoletada de vários sites de pop art, nao tenho nomes, nem referências, logo postarei. :)



Dr. Pepper






















Benefic kiss



There`s too much desire in their lips,

There`s too much health in their souls,

There`s too much world in their hands,

and a big time to make the wrong.


I can`t remember the time itself,

I can`t wait to not think in someone else,

I can`t feel down when you smile,

I can feel you here and the stars behind.


I do can kiss you now,

I do can hold you tigh,

for the secrets that I have to find,

All the silence, all the sound,

any motion can weak me up.


Do not breath,

Do not scream,

The pain is nice,

even at the advice,

I cut my blood in two.

For you, my soul is poor.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Chá

http://cha.web.simplesnet.pt/beneficios.htm



O chá é tradicionalmente usado, nos seus países de origem, como uma bebida benéfica à saúde em vários aspectos.

Recentemente, cientistas têm-se dedicado aos estudos dos efeitos do chá sobre o organismo, bem como conhecer melhor as substâncias que promovem esses efeitos.

Alguns estudos já demonstraram que o chá preto é eficaz como antioxidante e neuroestimulante, tendo sido aplicado em estudos contra o cancro e a epilepsia. E o que chá verde demonstra propriedades músculo-relaxantes, com efeitos sobre a hipertensão e ulcerações no aparelho digestivo.

Segundo alguns textos ligados à medicina natural e ao mundo da ervanária, existem alguns chás e infusões que podem aliviar certos tipos de mal-estar.

No entanto, há que ter em conta que todos os tipos de chá são ricos em cafeína e saponinas que, quando ingeridas em excesso podem causar danos no organismo.

Tradicionalmente, o chá está dividido em três categorias principais: Preto, Verde e Oolong, diferenciando-se pelo processamento das folhas.

Esta classificação está relacionada ao chá preparado com folhas da Camelia sinensis, a verdadeira planta do chá. Dentro de cada uma das categorias, há diversas misturas mais ou menos conhecidas, como o Pekoe, Darjeeling ou Ceilão.

O chá branco foi introduzido recentemente no mercado português dos chás, sendo feito igualmente a partir da Camellia sinensis, mas cujas folhas são tratadas de forma diferente dos chás tradicionais.

Lapsang Soushong - Um chá para os conhecedores, de folha grande, com um aroma “fumado”, muito característico. Exclusivo da China.

Jasmim - Servido tradicionalmente com ou após as refeições, especialmente Dim-Sum. Chá exótico, verde, perfumado com flores de jasmim.

Gunpowder - Nome estranho que deriva da forma como as folhas são enroladas formando bolinhas (pólvora). Chá verde tradicional, pálido, contendo menos cafeína do que qualquer outro chá. É o chá verde mais forte que se usa na Europa.

Keemun - Chá preto tradicional, óptimo para servir durante a refeição.

Yunnan - Chá de cor clara e brilhante. Sabor delicado.

Rose Pouchong - Chá delicado, perfumado com pétalas de rosa.

China Caravan - Um lote feito de chás Keemun. O nome deriva do facto de que costumava ser transportado por camelos ao longo da “Rota das Caravanas” vindas da China.

Puerh - Um antigo chá chinês apreciado pelo seu rico sabor e propriedades medicinais. É talvez o mais misterioso de todos os chás, sendo o processo de fabricação um segredo bem guardado.

Russian Caravan- Uma excelente mistura de chás Oolong da China e Formosa. Óptimo para tomar à tarde ou à noite.

Assam - Chá com o seu próprio símbolo, proveniente da província indiana do mesmo nome. Chá forte, de cor viva e aroma maltado, muito apreciado.

Darjeeling - Chá indiano, cultivado a uns 2 mil metros de altitude no sopé dos Himalaias, muito apreciado pelo seu sabor delicado, agradável a qualquer hora.

Nilgiri- Chá indiano, com o seu próprio símbolo, tal como os anteriores. Cultivado nas montanhas azuis do Sul da Índia. Sabor forte e perfumado.

Ceilão - Os chás do Ceilão, cultivados nas regiões altas do Sri Lanka, são utilizados principalmente para lotes. O melhor chama-se Dimbula. Todos são excelentes, leves e de bom sabor.

Sencha - O mais popular no Japão.

Gyokuro - O chá mais fino, colhido à mão, à sombra. Líquido verde. Rico em aminoácidos e clorofila.

Bancha - Qualidade mais inferior.

Hojicha - Obtém-se torrando dois chás de qualidade inferior, o Boncha e o Sencha.

Matcha- Chá preferido para a cerimónia do chá. Trata-se de Tencha, feito em pó.


Os Elementos

Os Elementos

Devemos descobrir a importância da influência dos elementos em nossas vidas, pois estes estão presentes em todos os rituais de bruxaria. Quando a forma de entrar em em harmonia com os elementos, aprenderemos a manejar os nossos próprios poderes de acordo com as nossas vontades, nos aproximando assim do nosso "eu interior".

Elemento Ar

Gêmeos - libra e aquário

Elemento Água

Câncer - Escorpião e Peixes

Elemento Fogo

Áries -- Leão e Sagitário

Elemento Terra

Touro - Virgem e Capricórnio

Bruxa(o) do leste

Bruxa(o) do Oeste

Bruxa(o) do Sul

Bruxa(o) do Norte

Dom:

Vidência

Telepatia

Telecinesia

Psicometria

Poder:

intelecto, razão

intuição, emoção

espírito, transformação

físico, criação

Sentido:

Olfato

paladar

audição

tato

Estação:

Inverno

primavera

verão

outono

Animal:

Borboleta

peixe

serpente

gato

Objeto:

Espada

cálice

cetro

pentáculo

Naipe:

Espadas

copas

ouros

paus

Cor:

Amarelo

azul

vermelho

verde

Elemental:

Silfos

Ondinas

Salamandras

gnomos

Erva:

Salgueiro, Sálvia, Verbena

Artemísia, Lavanda, Mil-folhas

Alecrim, Angélica, Sorveira

Arruda, Cipreste, Patchuli

Pedra:

Ametista, Quartzo Rosa, Turmalina

Água-marinha, Lápiz-lazúli, Sodalita

Ágata, Citrino, Opala-de-fogo

Hematita, Ônix, Pirita, Olho-de-tigre

ÁGUA

A água é o elemento da purificação, da mente subconsciente, do amor e todas as emoções. Assim como a água é fluida, constantemente mudando, fluindo, de um nível a outro, também são assim nossas emoções, constantemente se movimentando.

A água é o elemento da absorção e germinação. O subconsciente é simbolizado por este elemento, pois está sempre em movimento, como o mar que nunca descansa quer seja noite ou dia.

Direção: Oeste

Nome do Vento Oeste: Zephyrus

Energia: Receptiva, feminina

Signos: Câncer, Escorpião e Peixes

Trabalho ritual: Emoções, sentimentos, amor, coragem, ternura, tristeza, intuição, a mente inconsciente, o ventre, geração, fertilidade, plantas, cura, comunicação com o mundo espiritual, purificação, prazer, amizade, casamento, felicidade, sono, sonhos, o psíquico, o eu interior, simpatia, amor, reflexão, marés e correntes da vida, o poder de ousar e purificar as coisas, sabedoria interior, busca da visão, curar a si mesmo, visão interior, segurança, jornadas.

Lugares: Lagos, rios, fontes, poços, praias, banheiras, piscinas, chuveiros, cama ( para dormir), spas, o oceano e as marés.

Cores: Azul, verde, azul-esverdeado, cinza, índigo, roxo, preto.

Formas rituais: Diluir, colocar na água, lavar, banhar-se.

Natureza Básica: Purificante, fluente, curadora, suave, amorosa, movimento.

Fase da Vida: Maturidade

Tipos de magia: Mar, gelo, neve, neblina, espelho, ímã, chuva.

Tempo: Anoitecer

Estação: Outono – O tempo da colheita, quando a chuva lava a terra.

Ferramentas: Cálice, caldeirão, espelho, o mar.

Espíritos: Ondinas, ninfas, sereias e fadas dos lagos.

Rei: Niksa ou Necksa

Sentido: paladar

Pedras e Jóias: Água marinha, ametista, turmalina azul, pérola, coral, topázio azul, fluorita azul, lapis lazuli, sodalita.

Metais: Mercúrio, prata.

Incensos: Mirra, camomila, sândalo.

Plantas e árvores: Lótus, samambaia, musgo, arbustos, alga, couve-flor, gardênia, salgueiro.

Animais: Dragões, serpentes, golfinhos, focas, todos os peixes, mamíferos marinhos e criaturas marinhas, gato, sapo, tartaruga, lontra, ostra, cisne, caranguejo, urso.

Deusas: Afrodite, Ísis, Tiamat, Yemanja.

Deuses: Dylan, Osíris, Netuno e Poseidon.

É atraído por: Água, soluções, poções..

Instrumentos: Piano, teclados, cravo, sinos.

Símbolos: Oceanos, lagos, rios, poços, fontes, chuva, neblina, conchas, água.

AR

O Ar é o elemento do intelecto, é a realidade do pensamento que é o primeiro passo para a criação.

Magicamente falando, o ar é a clara, perfeita e pura visualização que é uma poderosa ferramenta de mudança. Ele é também o movimento, o ímpeto que manda a visualização na direção da concretização.

Ele governa os feitiços e rituais que envolvem viagem, instrução, liberdade, obtenção do conhecimento, encontrar itens perdidos, descobrir mentiras e assim por diante. Ele também pode ser usado para ajudar no desenvolvimento de faculdades psíquicas.

Feitiços envolvendo o ar geralmente incluem o ato de colocar um objeto no ar ou deixar cair um objeto do alto de uma montanha ou outro lugar alto para que o objeto realmente se conecte fisicamente com o elemento.

O ar é masculino, seco, expansivo e ativo. É o elemento que se sobressai nos locais de aprendizagem e nos quais ponderamos, pensamos e teorizamos.

O ar governa o Leste pois esta é a direção da maior luz, a da luz da sabedoria e conscientização. Sua cor é o amarelo do sol e do céu na aurora.

O ar governa a magia dos quatro ventos, de concentração e visualização e a maioria das magias adivinhatórias.

Direção: Leste

Nome do Vento Leste: Eurus

Energia: Projetiva, masculina

Signos: Gêmeos, libra e aquário

Trabalho ritual: A mente, todo o trabalho mental, intuitivo e psíquico, o conhecimento, aprendizagem abstrata, o vento e a respiração, inspiração, a audição, harmonia, pensamento e crescimento intelectual, viagem, liberdade, revelando a verdade, encontrando coisas perdidas, habilidades psíquicas, instrução, telepatia, memória, a habilidade de saber e entender, conhecer os segredos dos mortos, meditação zen, discussões, começos, iluminação.

Lugares: Topos de montanhas e colinas, céus nublados, praias onde se venta muito, torres altas, aeroportos, escolas, bibliotecas, escritórios, agências de viagem.

Cores: Branco, amarelo claro, azul claro, tons pastéis.

Formas rituais: Sacudir objetos no ar ou pendurá-los ao vento, suspender ferramentas em lugares altos, soprar objetos leves enquanto visualiza energias positivas, deixar que o vento carregue folhas, flores, ervas ou papel picado.

Natureza Básica: Movimento, flutuante, fresca, inteligente. O Som é uma manifestação deste elemento.

Fase da Vida: Infância

Tipos de magia: Adivinhação, concentração, visualização, profecia, magia do vento, karma, velocidade.

Tempo: Nascer do sol

Estação: Primavera – O tempo do frescor

Ferramentas: Incensário, Athame, espada, visualização criativa.

Espíritos: Silfos, Zéfiros e fadas que habitam o mundo das árvores, flores, ventos, brisas e montanhas.

Rei: Paralda

Sentido: Olfato e audição.

Pedras e Jóias: Topázio, pedras claras e transparentes, cristais, ametista, alezandrita, pedras azuis e amarelas.

Metais: Cobre.

Incensos: Olíbano, mirra, alecrim, violeta.

Plantas e árvores: Olíbano, mirra, prímula, tamareira, verbena, violeta, alfazema.

Animais: Pássaros, especialmente águias e falcões, insetos, aranhas.

Deusas: Aradia, Arianrhod, Cardea, Nuit, Urania.

Deuses: Enlil, Kheohera, Mercúrio, Thoth .

É atraído por: Instrumentos musicais, incensos.

Instrumentos: Flautas, todos os instrumentos de sopro.

Símbolos: Céu, vento, brisa, nuvens, respiração, vibração, plantas, ervas, flores, árvores.

FOGO

O Fogo é o elemento da mudança, vontade e paixão. Em um certo sentido ele contém dentro dele todas as formas de magia, pois a magia é o processo de mudança.

A Magia do fogo pode ser assustadora, os resultados se manifestam de forma rápida e espetacular. O fogo não é um elemento para os fracos. Entretanto, é o mais primal e por isso o mais usado.

Este é o reino da sexualidade e da paixão. Ele não representa apenas o fogo sagrado do sexo, mas também a faísca de divindade que brilha dentro de nós e de todas as coisas vivas. Ele é, ao mesmo tempo, o mais físico e o mais espiritual dos elementos.

Direção: Sul

Nome do Vento Sul: Notus

Energia: Projetiva, masculina

Signos: Áries, Leão e Sagitário

Trabalho ritual: Energia, espírito, calor, chama, sangue, vigor, vida, vontade, cura, destruição, purificação, fogueiras, lareiras, velas, sol, erupções, explosões, liberdade, mudança, visão, percepção, visão interior, iluminação, aprendizagem, amor, paixão, sexualidade, autoridade, a vontade de ousar, criatividade, lealdade, força, transformação, proteção, coragem, eu superior, sucesso, refinamento, as artes, evolução, fé, exercícios físicos, consciência corporal, vitalidade, autoconhecimento, poder.

Lugares: Desertos, fontes termais, vulcões, fornos, lareiras, quarto de dormir ( devido ao sexo), saunas, campos de atletismo, academias de ginástica.

Cores: Vermelho, amarelo, cores do fogo, laranja, dourado.

Formas rituais: Queimar, passar na fumaça ou derreter um objeto, erva ou imagem, velas e pequenas fogueiras.

Natureza Básica: Purificante, destruidora, limpadora, energética, sexual, forte.

Fase da Vida: Juventude

Tipos de magia: Vela, tempestade, tempo e estrela.

Tempo: Meio-dia.

Estação: Verão

Ferramentas: Bastão, lamparina ou velas, ervas ou papéis queimados.

Espíritos: Salamandras, dragões do fogo, a consciência das chamas.

Rei: Djin

Sentido: Visão

Pedras e Jóias: Opala de fogo, jasper, pedras vulcânicas, cristais de quartzo, rubi, carnélia, rodocrosita, ágata.

Metais: Ouro, latão.

Incensos: Olíbano, Canela, Junípero.

Plantas e árvores: Alho, hibisco, mostarda, urtiga, cebola, pimenta vermelha, canela, plantas espinhentas, buganvílea, cactos, grãos de café, amendoeira em flor.

Animais: Dragões, leões, cavalos, cobras, grilos, louva-deus, besouros, abelhas, centopéias, escorpiões, tubarões, fênix, coiotes, raposas.

Deusas: Brigid, Vesta, Pele, Héstia.

Deuses: Agni, Horus, Hefesto, Vulcano, Prometeu.

É atraído por: Velas, incensos, lamparinas, fogo.

Instrumentos: Guitarras, todos os instrumentos de corda.

Símbolos: Relâmpago, Vulcões, arco-íris, sol, estrelas, larva.

TERRA

Este é o elemento ao qual somos mais próximos, já que é nossa casa. A terra não representa necessariamente a Terra física, mas aquela parte da terra que é estável, sólida, da qual dependemos.

A Terra é o reino da abundância, prosperidade e riqueza. Ela é o mais físico dos elementos, pois sobre ela todos os três se apóiam. Sem a terra a vida como a conhecemos não existiria.

Direção: Norte – O lugar das maiores trevas

Nome do Vento Norte: Boreas, Ophion

Energia: Receptiva, feminina

Signos: Touro, Virgem e Capricórnio

Trabalho ritual: O corpo, crescimento, sustentação, ganho material, dinheiro, nascimento, morte, silêncio, rochas, pedras, cristais, jóias, metal, ossos, estruturas, noite, riqueza, tesouros, rendição, força de vontade, toque, empatia, crescimento, mistério, conservação, incorporação, negócios, prosperidade, emprego, estabilidade, sucesso, fertilidade, cura, forças da natureza combinadas, abundância material, runas, sabedoria prática, força física, ensino.

Lugares: Cavernas, vales, canyons, florestas, abismos, campos cultivados, fazendas, jardins, parques, cozinhas, creches, porões, minas, buracos, tocas, montanhas.

Cores: Negro, marrom,verde.

Formas rituais: Enterrar, plantar, fazer imagens de argila ou areia, andar na natureza enquanto visualiza o que se deseja.

Natureza Básica: Fértil, úmida, estável. A gravidade é a manifestação desse elemento.

Fase da Vida: Velhice.

Tipos de magia: Cultivo, ímãs, imagens, estátuas, pedra, árvore, nó, amarração.

Tempo: Meia-noite.

Estação: Inverno

Ferramentas: Pentáculo, pentagrama, imagens, pedras, sal, gemas, árvores, cordas.

Espíritos: Gnomos, anões, trolls, os que habitam o interior da terra, a consciência das gemas.

Rei: Ghob, Gob ou Ghom.

Sentido: Tato

Pedras e Jóias: Cristal de rocha, verdes como a esmeralda e o peridoto, ônix, jaspe, azurita, ametista, turmalina, quartzo rutilado..

Metais: Ferro, chumbo.

Incensos: Estoraque, benjoim.

Plantas e árvores: Confrei, hera, grãos, arroz, trigo, patchouly, vetivert, líques, musgo, nozes, plantas secas ou grandes e frondosas, carvalho, raízes.

Animais: Vaca, touro, búfalo, veado, cervo, antílope, cavalo, formiga, esquilo, texugo, urso, lobo.

Deusas: Ceres, Deméter, Gaia, Nephtys, Perséfone, Rhea, Rhiannon, Prithivi

Deuses: Adonis, Athos, Arawn, Cernunnos, Dionísio, Marduk, Pan, Tammuz..

É atraído por: Sais, pós e pedras.

Instrumentos: Baterias, todos os instrumentos de percussão.

Símbolos: Rochas, gemas, montanhas, campos planos, solos, cavernas e minas.

O Corvo - Edgar Allan Poe




Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."


Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundindo força, eu ia repetindo:
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, de certo me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo
Tão levemente, batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.


A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse os meus ais,
Isto só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.
Meu coração se distraia pesquisando estes sinais.
É o vento, e nada mais."


Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um Corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nenhum momento,
Mas com ar sereno e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.


E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho Corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o Corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o Corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento,
Perdido murmurei lento. "Amigos, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais."
Disse o Corvo, "Nunca mais".


A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas suas vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entorno da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!


Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o Corvo, "nunca mais".


"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta! -
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, e esta noite e este segredo
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!"
Disse o Corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta! -
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida, se no Éden de outra vida,
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o Corvo, "Nunca mais".


"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo", eu disse. "Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o Corvo, "Nunca mais".

E o Corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda,
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais.
E a minh'alma dessa sombra que no chão há de mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!

Edgar Allan Poe


Poema traduzido por Fernando Pessoa em 1924


O Gato Preto - Edgar Allan Poe


Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastante doméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã posso morrer e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimentos me aterrorizaram, torturaram e instruíram.

No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror _ mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotesco. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum _ uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que, a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.

Desde a infância, tomaram-se patentes a docilidade e o sentido humano de meu caráter. A ternura de meu coração era tão evidente, que me tomava alvo dos gracejos de meus companheiros. Gostava, especialmente, de animais, e meus pais me permitiam possuir grande variedade deles. Passava com eles quase todo o meu tempo, e jamais me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer ou os acariciava. Com os anos, aumentou esta peculiaridade de meu caráter e, quando me tomei adulto, fiz dela uma das minhas principais fontes de prazer. Aos que já sentiram afeto por um cão fiel e sagaz, não preciso dar-me ao trabalho de explicar a natureza ou a intensidade da satisfação que se pode ter com isso. Há algo, no amor desinteressado, e capaz de sacrifícios, de um animal, que toca diretamente o coração daqueles que tiveram ocasiões freqüentes de comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade de um simples homem.

Casei cedo, e tive a sorte de encontrar em minha mulher disposição semelhante à minha. Notando o meu amor pelos animais domésticos, não perdia a oportunidade de arranjar as espécies mais agradáveis de bichos. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um cão, coelhos, um macaquinho e um gato.

Este último era um animal extraordinariamente grande e belo, todo negro e de espantosa sagacidade. Ao referir-se à sua inteligência, minha mulher, que, no íntimo de seu coração, era um tanto supersticiosa, fazia freqüentes alusões à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são feiticeiras disfarçadas. Não que ela se referisse seriamente a isso: menciono o fato apenas porque aconteceu lembrar-me disso neste momento.

Pluto _ assim se chamava o gato _ era o meu preferido, com o qual eu mais me distraía. Só eu o alimentava, e ele me seguia sempre pela casa. Tinha dificuldade, mesmo, em impedir que me acompanhasse pela rua.

Nossa amizade durou, desse modo, vários anos, durante os quais não só o meu caráter como o meu temperamento _ enrubesço ao confessá-lo _ sofreram, devido ao demônio da intemperança, uma modificação radical para pior. Tomava-me, dia a dia, mais taciturno, mais irritadiço, mais indiferente aos sentimentos dos outros. Sofria ao empregar linguagem desabrida ao dirigir-me à minha mulher. No fim, cheguei mesmo a tratá-la com violência. Meus animais, certamente, sentiam a mudança operada em meu caráter. Não apenas não lhes dava atenção alguma, como, ainda, os maltratava. Quanto a Pluto, porém, ainda despertava em mim consideração suficiente que me impedia de maltratá-lo, ao passo que não sentia escrúpulo algum em maltratar os coelhos, o macaco e mesmo o cão, quando, por acaso ou afeto, cruzavam em meu caminho. Meu mal, porém, ia tomando conta de mim _ que outro mal pode se comparar ao álcool? _ e, no fim, até Pluto, que começava agora a envelhecer e, por conseguinte, se tomara um tanto rabugento, até mesmo Pluto começou a sentir os efeitos de meu mau humor.

Certa noite, ao voltar a casa, muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo. Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma perversidade mais do que diabólica, causada pela genebra, fez vibrar todas as fibras de meu ser.Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos! Enrubesço, estremeço, abraso-me de vergonha, ao referir-me, aqui, a essa abominável atrocidade.

Quando, com a chegada da manhã, voltei à razão _ dissipados já os vapores de minha orgia noturna, experimentei, pelo crime que praticara, um sentimento que era um misto de horror e remorso; mas não passou de um sentimento superficial e equívoco, pois minha alma permaneceu impassível. Mergulhei novamente em excessos, afogando logo no vinho a lembrança do que acontecera.

Entrementes, o gato se restabeleceu, lentamente. A órbita do olho perdido apresentava, é certo, um aspecto horrendo, mas não parecia mais sofrer qualquer dor. Passeava pela casa como de costume, mas, como bem se poderia esperar, fugia, tomado de extremo terror, à minha aproximação. Restava-me ainda o bastante de meu antigo coração para que, a princípio, sofresse com aquela evidente aversão por parte de um animal que, antes, me amara tanto. Mas esse sentimento logo se transformou em irritação. E, então, como para perder-me final e irremissivelmente, surgiu o espírito da perversidade. Desse espírito, a filosofia não toma conhecimento. Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano - uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer ações vis ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não devia cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante mesmo quando estamos no melhor do nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos como tal? Esse espírito de perversidade, digo eu, foi a causa de minha queda final. O vivo e insondável desejo da alma de atormentar-se a si mesma, de violentar sua própria natureza, de fazer o mal pelo próprio mal, foi o que me levou a continuar e, afinal, a levar a cabo o suplício que infligira ao inofensivo animal. Uma manhã, a sangue frio, meti-lhe um nó corredio em torno do pescoço e enforquei-o no galho de uma árvore. Fi-lo com os olhos cheios de lágrimas, com o coração transbordante do mais amargo remorso. Enforquei-o porque sabia que ele me amara, e porque reconhecia que não me dera motivo algum para que me voltasse contra ele. Enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado _ um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal, afastando-a, se é que isso era possível, da misericórdia infinita de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente terrível.

Na noite do dia em que foi cometida essa ação tão cruel, fui despertado pelo grito de "fogo!". As cortinas de minha cama estavam em chamas. Toda a casa ardia. Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi completa. Todos os meus bens terrenos foram tragados pelo fogo, e, desde então, me entreguei ao desespero.

Não pretendo estabelecer relação alguma entre causa e efeito - entre o desastre e a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao do incêndio, visitei as ruínas. As paredes, com exceção de uma apenas, tinham desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior, situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo _ coisa que atribuí ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno dessa parede, e muitas pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade, uma parte dela, As palavras "estranho!", "singular!", bem como outras expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em tomo do pescoço do animal.

Logo que vi tal aparição, pois não poderia considerar aquilo como sendo outra coisa, o assombro e terror que se me apoderaram foram extremos. Mas, finalmente, a reflexão veio em meu auxílio. O gato, lembrei-me, fora enforcado num jardim existente junto à casa. Aos gritos de alarma, o jardim fora imediatamente invadido pela multidão. Alguém deve ter retirado o animal da árvore, lançando-o, através de uma janela aberta, para dentro do meu quarto. Isso foi feito, provavelmente, com a intenção de despertar-me. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima de minha crueldade no gesso recentemente colocado sobre a parede que permanecera de pé. A cal do muro, com as chamas e o amoníaco desprendido da carcaça, produzira a imagem tal qual eu agora a via.

Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo, de maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse. Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares que então freqüentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante que pudesse substituí-lo.

Uma noite, em que me achava sentado, meio aturdido, num antro mais do que infame, tive a atenção despertada, subitamente, por um objeto negro que jazia no alto de um dos enormes barris, de genebra ou rum, que constituíam quase que o único mobiliário do recinto. Fazia já alguns minutos que olhava fixamente o alto do barril, e o que então me surpreendeu foi não ter visto antes o que havia sobre o mesmo. Aproximei-me e toquei-o com a mão. Era um gato preto, enorme _ tão grande quanto Pluto _ e que, sob todos os aspectos, salvo um, se assemelhava a ele. Pluto não tinha um único pêlo branco em todo o corpo _ e o bichano que ali estava possuía uma mancha larga e branca, embora de forma indefinida, a cobrir-lhe quase toda a região do peito.

Ao acariciar-lhe o dorso, ergueu-se imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a minha atenção lhe causasse prazer. Era, pois, o animal que eu procurava. Apressei-me em propor ao dono a sua aquisição, mas este não manifestou interesse algum pelo felino. Não o conhecia; jamais o vira antes.

Continuei a acariciá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa, o animal demonstrou disposição de acompanhar-me. Permiti que o fizesse _ detendo-me, de vez em quando, no caminho, para acariciá-lo. Ao chegar, sentiu-se imediatamente à vontade, como se pertencesse a casa, tomando-se, logo, um dos bichanos preferidos de minha mulher.

De minha parte, passei a sentir logo aversão por ele. Acontecia, pois, justamente o contrário do que eu esperava. Mas a verdade é que - não sei como nem por quê _ seu evidente amor por mim me desgostava e aborrecia. Lentamente, tais sentimentos de desgosto e fastio se converteram no mais amargo ódio. Evitava o animal. Uma sensação de vergonha, bem como a lembrança da crueldade que praticara, impediam-me de maltratá-lo fisicamente. Durante algumas semanas, não lhe bati nem pratiquei contra ele qualquer violência; mas, aos poucos - muito gradativamente _ , passei a sentir por ele inenarrável horror, fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como se fugisse de uma peste.

Sem dúvida, o que aumentou o meu horror pelo animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte ao que o levei para casa, que, como Pluto, também havia sido privado de um dos olhos. Tal circunstância, porém, apenas contribuiu para que minha mulher sentisse por ele maior carinho, pois, como já disse, era dotada, em alto grau, dessa ternura de sentimentos que constituíra, em outros tempos, um de meus traços principais, bem como fonte de muitos de meus prazeres mais simples e puros.

No entanto, a preferência que o animal demonstrava pela minha pessoa parecia aumentar em razão direta da aversão que sentia por ele. Seguia-me os passos com uma pertinácia que dificilmente poderia fazer com que o leitor compreendesse. Sempre que me sentava, enrodilhava-se embaixo de minha cadeira, ou me saltava ao colo, cobrindo-me com suas odiosas carícias. Se me levantava para andar, metia-se-me entre as pernas e quase me derrubava, ou então, cravando suas longas e afiadas garras em minha roupa, subia por ela até o meu peito. Nessas ocasiões, embora tivesse ímpetos de matá-lo de um golpe, abstinha-me de fazê-lo devido, em parte, à lembrança de meu crime anterior, mas, sobretudo _ apresso-me a confessá-lo _ , pelo pavor extremo que o animal me despertava. Esse pavor não era exatamente um pavor de mal físico e, contudo, não saberia defini-lo de outra maneira. Quase me envergonha confessar _ sim, mesmo nesta cela de criminoso _ , quase me envergonha confessar que o terror e o pânico que o animal me inspirava eram aumentados por uma das mais puras fantasias que se possa imaginar. Minha mulher, mais de uma vez, me chamara a atenção para o aspecto da mancha branca a que já me referi, e que constituía a única diferença visível entre aquele estranho animal e o outro, que eu enforcara. O leitor, decerto, se lembrará de que aquele sinal, embora grande, tinha, a princípio, uma forma bastante indefinida. Mas, lentamente, de maneira quase imperceptível _ que a minha imaginação, durante muito tempo, lutou por rejeitar como fantasiosa _, adquirira, por fim, uma nitidez rigorosa de contornos. Era, agora, a imagem de um objeto cuja menção me faz tremer... E, sobretudo por isso, eu o encarava como a um monstro de horror e repugnância, do qual eu, se tivesse coragem, me teria livrado. Era agora, confesso, a imagem de uma coisa odiosa, abominável: a imagem da forca! Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte!

Na verdade, naquele momento eu era um miserável _ um ser que ia além da própria miséria da humanidade. Era uma besta-fera, cujo irmão fora por mim desdenhosamente destruído... uma besta-fera que se engendrara em mim, homem feito à imagem do Deus Altíssimo. Oh, grande e insuportável infortúnio! Ai de mim! Nem de dia, nem de noite, conheceria jamais a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava a sós um único momento; e, à noite, despertava de hora em hora, tomado do indescritível terror de sentir o hálito quente da coisa sobre o meu rosto, e o seu enorme peso _ encarnação de um pesadelo que não podia afastar de mim _ pousado eternamente sobre o meu coração!

Sob a pressão de tais tormentos, sucumbiu o pouco que restava em mim de bom. Pensamentos maus converteram-se em meus únicos companheiros _ os mais sombrios e os mais perversos dos pensamentos. Minha rabugice habitual se transformou em ódio por todas as coisas e por toda a humanidade _ e enquanto eu, agora, me entregava cegamente a súbitos, freqüentes e irreprimíveis acessos de cólera, minha mulher - pobre dela! - não se queixava nunca convertendo-se na mais paciente e sofredora das vítimas.

Um dia, acompanhou-me, para ajudar-me numa das tarefas domésticas, até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar, O gato seguiu-nos e, quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal, se atingisse o alvo. Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe. Tomado, então, de fúria demoníaca, livrei o braço do obstáculo que o detinha e cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente, sem lançar um gemido.

Realizado o terrível assassínio, procurei, movido por súbita resolução, esconder o corpo. Sabia que não poderia retirá-lo da casa, nem de dia nem de noite, sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos.

Ocorreram-me vários planos. Pensei, por um instante, em cortar o corpo em pequenos pedaços e destruí-los por meio do fogo. Resolvi, depois, cavar uma fossa no chão da adega. Em seguida, pensei em atirá-lo ao poço do quintal. Mudei de idéia e decidi metê-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria, na forma habitual, fazendo com que um carregador o retirasse da casa. Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.

Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita. E não me enganei em meus cálculos. Por meio de uma alavanca, desloquei facilmente os tijolos e tendo depositado o corpo, com cuidado, de encontro à parede interior. Segurei-o nessa posição, até poder recolocar, sem grande esforço, os tijolos em seu lugar, tal como estavam anteriormente. Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível, preparei uma argamassa que não se podia distinguir da anterior, cobrindo com ela, escrupulosamente, a nova parede. Ao terminar, senti-me satisfeito, pois tudo correra bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada. Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em tomo, disse, de mim para comigo: "Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão".

O passo seguinte foi procurar o animal que havia sido a causa de tão grande desgraça, pois resolvera, finalmente, matá-lo. Se, naquele momento, tivesse podido encontrá-lo, não haveria dúvida quanto à sua sorte: mas parece que o esperto animal se alarmara ante a violência de minha cólera, e procurava não aparecer diante de mim enquanto me encontrasse naquele estado de espírito. Impossível descrever ou imaginar o profundo e abençoado alívio que me causava a ausência de tão detestável felino. Não apareceu também durante a noite _ e, assim, pela primeira vez, desde sua entrada em casa, consegui dormir tranqüila e profundamente. Sim, dormi mesmo com o peso daquele assassínio sobre a minha alma.

Transcorreram o segundo e o terceiro dia _ e o meu algoz não apareceu. Pude respirar, novamente, como homem livre. O monstro, aterrorizado fugira para sempre de casa. Não tomaria a vê-lo! Minha felicidade era infinita! A culpa de minha tenebrosa ação pouco me inquietava. Foram feitas algumas investigações, mas respondi prontamente a todas as perguntas. Procedeu-se, também, a uma vistoria em minha casa, mas, naturalmente, nada podia ser descoberto. Eu considerava já como coisa certa a minha felicidade futura.

No quarto dia após o assassinato, uma caravana policial chegou, inesperadamente, a casa, e realizou, de novo, rigorosa investigação. Seguro, no entanto, de que ninguém descobriria jamais o lugar em que eu ocultara o cadáver, não experimentei a menor perturbação. Os policiais pediram-me que os acompanhasse em sua busca. Não deixaram de esquadrinhar um canto sequer da casa. Por fim, pela terceira ou quarta vez, desceram novamente ao porão. Não me alterei o mínimo que fosse. Meu coração batia calmamente, como o de um inocente. Andei por todo o porão, de ponta a ponta. Com os braços cruzados sobre o peito, caminhava, calmamente, de um lado para outro. A polícia estava inteiramente satisfeita e preparava-se para sair. O júbilo que me inundava o coração era forte demais para que pudesse contê-lo. Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e também para tomar duplamente evidente a minha inocência.

_ Senhores _ disse, por fim, quando os policiais já subiam a escada _ , é para mim motivo de grande satisfação haver desfeito qualquer suspeita. Desejo a todos os senhores ótima saúde e um pouco mais de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem construída... (Quase não sabia o que dizia, em meu insopitável desejo de falar com naturalidade.) Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes _ os senhores já se vão? _ , estas paredes são de grande solidez.

Nessa altura, movido por pura e frenética fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa de meu coração.

Que Deus me guarde e livre das garras de Satanás! Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo, completamente anormal e inumano. Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia, e dos demônios exultantes com a sua condenação.

Quanto aos meus pensamentos, é loucura falar. Sentindo-me desfalecer, cambaleei até à parede oposta. Durante um instante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror. Decorrido um momento, doze braços vigorosos atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto, aos olhos dos presentes.

Sobre sua cabeça, com a boca vermelha dilatada e o único olho chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco. Eu havia emparedado o monstro dentro da tumba!

Edgar Allan Poe

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Agora tanto faz


O fim de ano está próximo, tanto faz.
Mais um ano de vida não me garante.
Mais um acordar distante,
uma nova cara?
Não, só mais velha.
Afogado nos vícios, sejam eles ilícitos,
ou, tanto faz.
Me garanto apenas daquilo que confio.
Não confio em mim as vezes.
Em outros, jamais!
Mas, tanto faz.
Aprendemos a lidar com a modernidade.
Que vazia agora libera de tudo um pouco.
Aceita tudo aquilo que pra mim seria pecado.
Já me acostumei.
Só espero que as coisas que me traziam paz, retornem.
Não sei lidar com a sabedoria neste momento.
Só preciso descansar.
As vezes eu preciso é de alguém comigo,
E tenho.
Raramente, mas tenho.
Sinto falta,
Sentirei mais ainda.
Sou apenas mais um corpo em movimento
perdido como tantos outros,
conformado com fatos.
Só sei que eu já sei o que eu tinha que saber,
Agora tanto faz.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ivan Illich




"É na liberdade universal de palavra, de reunião e de informação que consiste a virtude educativa"


Ivan Illich nasceu em Viena no ano de 1926 e faleceu em Bremen, na Alemanha em Dezembro de 2002. Filho de pai jugoslavo e mãe com ascendência judia, teve de abandonar a Áustria quando tinha cinco anos. A família mudou-se para Roma, onde Illich completou os seus estudos: física (Florença), filosofia e teologia (Roma) e doutoramento em História (Salzburgo). Durante a infância e juventude conviveu com o círculo de nobres russos que se refugiaram na capital italiana depois de terem saído do seu país aquando da revolução comunista de 1917. Foi também em Roma que Illich entrou para o seminário (1951), onde teve como colegas muitos dos futuros diplomatas do Vaticano e onde se ordenou sacerdote. O Cardeal Spellman, arcebispo de Nova Iorque, convidou-o para seu auxiliar. Por ser fluente em dez línguas, Illich tornou-se intérprete do Cardeal e teve como função preparar sacerdotes e religiosas para a comunidade hispano-americana. Nos anos 60 mudou-se para o México onde criou o Centro Intercultural de Formação (CIF), com o objectivo de sensibilizar missionários para trabalhar na América Latina. Na década de 70 foi co-fundador do Centro de Informação e Documentação (CIDOC), espécie de universidade aberta, especialmente voltada para os problemas da educação e independência cultural do Terceiro Mundo, sobretudo da América Latina.

A partir de 1980, dividiu o seu tempo entre o México, os Estados Unidos e a Alemanha. Nos últimos anos de sua vida, Illich foi professor convidado de filosofia, de ciência, tecnologia e sociedade no estado da Pensilvânia, sendo também docente na Universidade de Bremen onde morreu no dia 2 de Dezembro de 2002.

Segundo Illich, o actual sistema educativo converteu-se num sistema burocrático, hierarquizado e manipulador, tendo como função primordial a reprodução e o controlo das relações económicas. Por toda a parte, o aluno é levado a acreditar que só um aumento de produção é capaz de conduzir a uma vida melhor. Deste modo se instala o hábito do consumo dos bens e dos serviços, que nega a expressão individual, que aliena, que leva a reconhecer as classes e as hierarquias impostas pelas instituições(Illich, 1974, pp.9). Os alunos estão sujeitos a currículos extensos e repetitivos, dados de forma demasiado rápida e superficial. Os professores, já habituados a esta rotina, não dão a possibilidade de aprofundar um ou outro tema que mais interesse os alunos, nem são capazes de atender às necessidades específicas de cada aluno. A escola passa assim a ser um local de desigualdades e de conflitos, uma vez que alguns se adaptarão melhor do que outros.